Pessoas com deficiências estão vivendo mais, mas os médicos não sabem como tratá-las

  • 19/12/2023
(Foto: Reprodução)
Faculdades de medicina deveriam incluir o cuidado na abordagem a pacientes com transtornos intelectuais em seus currículos Romila Santra é estudante de medicina em Harvard, o que lhe garantirá um enorme leque de opções na profissão. No entanto, ela se preocupa porque os futuros doutores não estarão preparados para atender a quase 7.5 milhões de pacientes. Esse é o contingente com algum tipo de deficiência nos Estados Unidos – como é o caso de seu irmão gêmeo, portador de autismo severo e que não se comunica verbalmente. Menino com autismo: currículos das faculdades de medicina deveriam incorporar o cuidado com portadores de transtornos do desenvolvimento intelectual Pixabay “Minha família convive com uma profunda ansiedade diante da perspectiva de precisar de cuidados especiais para meu irmão. No último verão, minha mãe procurou 12 cirurgiões dentistas até encontrar alguém que se dispusesse a extrair seu dente siso. Agora, como estudante de medicina, entendo como o sistema de saúde é tão pouco acolhedor para quem é portador de uma incapacidade”. A jornalista Claudia Silva Jacobs é mãe de Francisco, de 19 anos, que tem autismo, e conhece bem a dificuldade de achar um profissional capaz de aliar conhecimento a empatia. A jornada de Claudia e Paul, seu marido, começou quando ainda moravam na Inglaterra e não havia um diagnóstico para o caso: “Quando voltamos para o Brasil, nossa primeira experiência foi com uma neurologista que prescreveu remédios muito fortes. Trocamos de médico e, este, apesar de conhecido, não tinha a empatia necessária. Só depois encontramos a neuropsiquiatra que nos acompanha há dez anos. Trocamos informações nos grupos de famílias de autistas e o problema é bastante comum. Os planos de saúde dispõem de poucos profissionais especializados e há uma enorme demora para marcar uma consulta. Também aprendemos que a família inteira tem que se cuidar”. Recentemente, Romila escreveu um artigo para a revista Stat no qual relembra o caso de Oliver McGowan, adolescente britânico com autismo hospitalizado com pneumonia e convulsões recorrentes. Seus pais tinham um pedido específico: que o rapaz de 18 anos não fosse tratado com medicamentos antipsicóticos, que já haviam sido prescritos anos antes com pesados efeitos colaterais. Apesar dos protestos da família, os médicos administraram a medicação, que causou um dano neurológico fatal. Depois da morte de Oliver, sua mãe, Paula, iniciou uma campanha exigindo treinamento dos profissionais de saúde para dar assistência a pacientes com incapacidade intelectual – o que só se materializou em 2022. Numa pesquisa de 2021, realizada com 714 médicos de diversas especialidades, apenas 40% afirmaram se sentir confiantes para atender pacientes com deficiências físicas ou mentais. Num estudo mais antigo, de 2015, 77% dos médicos relataram ter um nível insuficiente ou apenas razoável de treinamento para lidar com pessoas com autismo. Em 1984, a expectativa de vida de alguém com Síndrome de Down era de 28 anos; hoje, está em torno de 60 anos. Este é um grupo com risco aumentado para a Doença de Alzheimer, mas os medicamentos para ansiedade, depressão e insônia tendem a provocar efeitos colaterais severos. O que não se pode ignorar é que todos esses indivíduos precisam de diferentes especialistas e os currículos das faculdades de medicina deveriam incorporar o cuidado ao grupo com transtornos do desenvolvimento intelectual de forma transversal. Perguntas específicas como, por exemplo, se há algum tipo de estímulo que incomoda a pessoa, ou como ela se comunica, têm que ser incorporadas à consulta. Está na hora de os médicos se adaptarem às necessidades dos pacientes.

FONTE: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2023/12/19/pessoas-com-deficiencias-estao-vivendo-mais-mas-os-medicos-nao-sabem-como-trata-las.ghtml


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