Atriz conta como cuidou do marido com Alzheimer

  • 03/03/2024
(Foto: Reprodução)
“A memória infinita”, dirigido pela chilena Maite Alberdi, concorre ao Oscar de melhor documentário Na premiação do Oscar, que acontece no próximo domingo, o favorito na categoria de melhor documentário é “20 dias em Mariupol”, sobre a guerra da Ucrânia. Mas “A memória infinita”, da chilena Maite Alberdi (que já concorreu à estatueta em 2020, com “Agente duplo”), retrata de forma primorosa a devastação provocada pela Doença de Alzheimer tendo, como fio condutor, o relacionamento do jornalista Augusto Góngora e da atriz Paulina Urrutia. Ambos sempre estiveram na linha de frente da cena cultural do Chile: as reportagens dele desafiaram a ditadura de Augusto Pinochet; ela, além de atuar, foi ministra da cultura do governo de Michelle Bachelet. Paulina Urrutia e Augusto Góngora: o casal é retratado no documentário “A memória infinita” Divulgação A cena de abertura do filme é na cama do casal. Esse é um começo de dia de uma batalha impossível de vencer: Pauli, como é conhecida, tem que explicar ao marido que é sua esposa e que estão em casa. Foi de Góngora a ideia de participar do documentário acompanhando a progressão da doença. Logo após o diagnóstico, falou abertamente sobre o assunto num dos principais jornais chilenos e se transformou numa figura pública a advogar pela causa. Há momentos de ternura e cumplicidade entre os dois, mas também de enorme dor, principalmente quando ele chega a um estágio no qual não a reconhece ou acha que está confinado contra sua vontade. É irônico que, entre as cenas do material de arquivo utilizado pela cineasta, surja um Góngora jovem e combativo afirmando: “sem memória não há identidade”. Ele se referia à necessidade de não deixar no esquecimento os crimes da ditadura, que durou de 1973 a 1990. Numa longa entrevista dada à Alzheimer´s Association, Paulina contou que o marido estava desenvolvendo um projeto para a TV pública do país quando surgiram os primeiros sinais de que algo não ia bem. Na época, tinha apenas 62 anos: “A primeira coisa a falhar foi sua capacidade de reter as informações, como não se lembrar do motivo de ter marcado uma reunião. Num outro episódio, depois de dar aula na universidade, me ligou para dizer que seu carro havia sido roubado. Fui encontrá-lo e procuramos nos quarteirões adjacentes, mas não achamos o automóvel. Dois meses depois, a polícia nos telefonou dizendo que havia encontrado o veículo, que estava a três quarteirões de distância. Foi quando decidimos ir ao médico”. Pauli reconhece que ter se tornado responsável pelo marido teve um impacto físico, emocional e financeiro – ela teve que continuar trabalhando porque virou a principal provedora da casa e às vezes o levava para os ensaios teatrais, porque não tinha com quem deixá-lo. No entanto, os momentos em que se divertem juntos, inclusive conversando sobre a doença, quando ele ainda é capaz de discutir as dificuldades do futuro, dão a dimensão do afeto que permeia a relação. “Nunca me vi como uma cuidadora, e sim como uma parceira que cuidava do companheiro. Contratei alguém para me ajudar durante um período do dia porque algumas tarefas demandavam duas pessoas, mas, no resto do tempo, éramos eu e Augusto. Eu apreciava nossa intimidade e tive a sorte de exercer uma atividade que permitia sua presença. O mais bonito em nossa história foi termos descoberto esse amor incondicional quando o outro estava vulnerável. Estar ali com ele, segurar sua mão, foi profundamente significativo para mim”. “A memória infinita”, que está disponível em streaming, teve sua estreia mundial em janeiro de 2023, no Festival de Sundance, onde ganhou o Grande Prêmio do Júri. O documentário chega a registrar o jornalista num estágio avançado da enfermidade, já praticamente sem falar e sendo alimentado por Pauli. Góngora morreu em maio de 2023, aos 71 anos. Para quem está lidando com situação semelhante, ela aconselha: “É importante saber equilibrar as emoções. Se você começar a sofrer, se zangar e a se sentir impotente, e não encarar isso de frente, vai acabar adoecendo. Mas se conseguir criar momentos de ternura e riso, será menos difícil enfrentar o desafio. Talvez o conselho que eu possa dar é que não devemos ficar presos a uma decisão. Se você se der conta de que não tem condições de lidar com tudo o que está acontecendo, o melhor é ser honesto consigo mesmo e buscar uma alternativa”.

FONTE: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2024/03/03/atriz-conta-como-cuidou-do-marido-com-alzheimer.ghtml


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